sexta-feira, 27 de maio de 2011

Indicação de Leitura: A Metamorfose, de Franz Kafka

Franz Kafka foi um escritor tcheco de origem judaica (1883-1924). Sua obra põe em cena personagens voltados ao estranhamento, à solidão e à culpa. “A Metamorfose”, uma de suas obras mais conhecidas, tem início de uma forma já perturbadora: "Uma manhã, depois de um sono intranquilo, Gregor Samsa despertou convertido em um monstruoso inseto. Estava deitado de costas para baixo sobre uma dura carapaça e, ao alçar a cabeça, viu seu ventre convexo e escuro, sulcado por calosidades curvas, sobre o qual quase não se mantinha o cobertor que estava a ponto de escorregar até o chão. Numerosas patas, penosamente delgadas em comparação com a grossura normal de suas pernas, agitavam-se sem concerto.” Por aqui se observa o embate no qual a narrativa irá se desdobrar. Como pode alguém acordar transformado num inseto e continuar vivendo? Estão aqui o gênero literário (novela) e o tema (social), contendo não muito mais do que vinte mil palavras. No entanto, a densidade dessa obra pode ser considerada um dos textos mais instigantes da literatura do século XX. O foco narrativo é o do “narrador onisciente”, o que pode ser observado na simples presença do verbo de elocução “pensar”, utilizado várias vezes, o que não caberia, portanto, a um suposto narrador em terceira pessoa. Quanto ao discurso, nota-se que o narrador se incumbe de esclarecer quem falou, como e por que falou, ou seja, é nessa perspectiva que o protagonista Gregor Samsa, que trabalha como representante comercial para um armazém da cidade, desenrola sua existência junto à irmã Grete Samsa e seus pais.
O lugar em que se passa a história é em sua casa, particularmente seu quarto, onde passa a maior parte do tempo. Vivendo, então, um profundo constrangimento diante da situação em que se encontra, seja por não poder ir para o trabalho, já que é o arrimo da família, seja por não poder se alimentar direito e, principalmente, pelo que sua nova condição impõe à família, Gregor vive, mais do que uma transformação física, é a metamorfose em si mesmo, pois, em extrema concentração simbólica, cada lance é estratificado como um cosmos, segundo o crítico e biográfo Pietro Citati. E não tendo, enfim, a possibilidade de reverter o seu quadro existencial, a trajetória de Gregor Samsa é a metáfora de uma vida, entre a opressão do pai e a exclusão do meio. Que fim, então, pode ter uma vida assim?
 
Para aqueles que quiserem complementar a reflexão sobre a obra, sugiro a leitura da dissertação de mestrado de Francisco Elias Simão Merçon, intitulada "Uma Leitura Analítica da obra A Metamorfose, de Franz Kafka" (apresentada na USP).

Nenhum comentário:

Postar um comentário