domingo, 8 de maio de 2011

Poesia: Canção de um Tempo, de Amélia Raposo

Canção de um Tempo

Tudo me foi passageiro...
O amor passageiro
a cama passageira
os beijos passageiros...
Também passageiro foi
o coração que não é meu,
a vida que não é minha
e nem sei a quem pertence!
Minhas mãos que falam poemas
são minhas... Sim, estas são minhas,
ao cunhar no papel os meus sentimentos...
O grito da poesia é todo meu,
na dor ou na alegria,
patrimônio inestimável, só meu,
bem maior que a mim pertence...
Trafego estradas desconhecidas
O sol não me pertence
a paisagem não me pertence
o canto dos pássaros
também não me pertence...
Nem a casa onde nasci me pertence!
Passageiros, prazeres passageiros...
A angústia que explode dentro de mim
esta sim, a mim pertence,
e ninguém dela faz questão...
Destilo a gota do sofrimento
mergulho fundo nas águas frias...
O café da manhã é frio
O pão também é frio
mas as mãos servas que o sovaram
antes mesmo do sol nascer
estão quentes e me alimentam...
A mocidade foi transitória
como a carícia de um tempo que findou.
A velhice solitária é como um soco
intransferível a arder-me na face!
Tudo na vida é provisório
na travessia silenciosa que fazemos,
um a um, peregrinos que somos
nesse espaço de sombras
onde habitamos nus!
Amélia Marcionila Raposo da Luz: escreve contos, crônicas, poesias e trovas sendo premiada em todas essas categorias. Participa de concursos literários com publicações em agendas, periódicos e antologias diversas no Brasil e exterior. Membro de diversas entidades culturais.  Trabalha a poesia na sua oficina de versos, uma das causas da sua vida. Livro solo: Pousos e Decolagens (poesias) e outros em construção.

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