domingo, 16 de outubro de 2011

Exposição 'Leonardo Da Vinci: maravilhas mecânicas' destaca invenções do artista italiano



Os traços que encantam o mundo em telas e afrescos também serviram para fixar no papel outras mirabolantes criações de Da Vinci. Em comum entre as duas modalidades, sobressai o estudioso dedicado, que mergulha na arte e na ciência com o mesmo rigor criterioso. A exposição "Leonardo Da Vinci: maravilhas mecânicas", aberta amanhã no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), é uma oportunidade de conhecer melhor essa espécie de lado B do gênio italiano. A mostra apresenta dez modelos de máquinas, construídos pelo engenheiro italiano Roberto Guatelli, com base nos projetos do renascentista.
As peças integram o acervo do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), no Rio de Janeiro. A produção científica de Da Vinci foi tema de uma exposição no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM), há cerca de dez anos, quando o pró-reitor de Cultura da UFJF, José Alberto Pinho Neves, ocupava a superintendência da Funalfa. O professor ressalta, entretanto, que a nova mostra conta com protótipos que não participaram da exibição no CCBM.
"A exposição destaca a transversalidade da arte com outras linguagens. A proposta é mostrar o artista não como um produtor de imagens apenas, mas como um criador que abrange os campos da ciência", comenta Pinho Neves, ressaltando a atuação de Leonardo Da Vinci nos estudos da anatomia humana. O pró-reitor ainda enfatiza a contribuição do gênio italiano em uma época em que tais investigações eram reprimidas por instituições do poder, como a Igreja Católica.
Além de reproduções ampliadas dos desenhos de Leonardo Da Vinci, o espectador poderá conhecer as criações do italiano em três dimensões. Feitos em madeira, os modelos mostram a engenhosidade do gênio ao criar mecanismos para dominar a natureza, em seus quatro elementos básicos. Entre os inventos mais célebres está o "ornitóptero", máquina voadora movimentada por um sistema de molinetes. Enquanto os braços do piloto agitavam as asas, os pés pedalavam.
Para medir a velocidade do vento, Da Vinci criou um anemômetro, em que a impulsão do ar era captada por uma haste de metal, ligada a um quadrante calibrado. Com objetivo de vencer distâncias na água, o artista imaginou o Navio de Pás Giratórias, cujo sistema de engrenagens era acionado pela força humana. Um tipo de roda propulsora similar foi utilizado no século XIX, para embalar as embarcações a vapor.
Como demonstram essas invenções, o gênio italiano se debruçou longamente em estudo de engrenagens, capazes de gerar movimentos em diferentes direções a partir de pedais ou manivelas. Esses estudos deram origem a tecnologias utilizadas até hoje no mecanismo dos relógios.
O conhecimento de Da Vinci também foi colocado em função do poderio de seus protetores. Assim, o artista investigou artifícios de defesa, como a Ponte Giratória, capaz de unir uma ilha ao continente e depois ser recolhida, impedindo o acesso de inimigos. Para incrementar as ofensivas bélicas, o Tanque Militar agrega canhões carregados pela culatra, que poderiam ser manobrados de dentro do veículo. O invento é considerado um antecessor do tanque blindado, que entraria em ação 500 anos mais tarde, na Primeira Guerra Mundial.

Itinerários italianos

Fonte de inspiração para artistas por sua ligação com a cultura clássica, a Itália foi o país de residência do poeta Murilo Mendes, a partir de 1957. No período em que ocupou o cargo de professor visitante na Universidade de Roma (e, posteriormente, na Universidade de Pisa), o juiz-forano não só registrou sua admiração pelo contato próximo com um dos berços da cultura ocidental, como estabeleceu relações de amizade que resultaram em sua valiosa coleção de arte contemporânea. Além de reunir o acervo que hoje está sob guarda do Mamm, o escritor imprimiu sua contribuição como crítico, em artigos publicados em jornais italianos.
A exposição "Murilo Mendes - Poeta peregrino na Itália", aberta amanhã no Mamm, apresenta a íntima relação de Murilo Mendes com o país, reunindo textos e obras de sua coleção. Na mostra, estão não só pintores italianos presentes na coleção muriliana, como também os artistas brasileiros escolhidos pelo juiz-forano para participar da 32º Bienal de Veneza, em 1964. Integrando esse segmento, estarão obras de Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, Almir Mavignier e Abrahav Palatnik. "Essa seleção está em condições de representar uma visão da arte brasileira do período", comenta Pinho Neves.
A convivência do poeta com a "Cidade eterna" também será o tema do seminário "Ipotesi/Hipóteses - Murilo Mendes e a Itália", que acontece amanhã e terça. Parceria do museu com o Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES-JF), o evento traz à cidade os pesquisadores italianos Ettore Finazzi Agrò, professor titular de literatura portuguesa e brasileira na Universidade de Roma, e Lorenzo Mammì, professor da Faculdade de Filosofia da USP.
Completando a nova programação do Mamm, que entra em cartaz amanhã, a exposição "Passaredo - Ilustração ornitológica" traz desenhos de Raphael Dutra. Apresentando ilustrações de aves da região, a mostra foi escolhida para ocupar a galeria Poliedro por permitir um diálogo com as obras de Da Vinci, a partir do enfoque científico.
LEONARDO DA VINCI: MARAVILHAS MECÂNICAS
MURILO MENDES - POETA PEREGRINO NA ITÁLIA
PASSAREDO - ILUSTRAÇÃO ORNITOLÓGICA
Abertura amanhã, às 20h. Visitação de terça a sexta, das 10h às 18h, sábados e domingos, das 13h às 18h. Até 8 de janeiro
Mamm (Rua Benjamin Constant 790)

Fonte: Jornal Tribuna de Minas. Disponível em [http://www.tribunademinas.com.br/cultura/o-lado-b-do-genio-1.967458]. Acesso: 16/10/11

Nenhum comentário:

Postar um comentário