sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Drummond, o poeta gauche


"Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem na sombra, disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida". Assim, Carlos Drummond de Andrade se anuncia no “Poema de sete faces”, de seu livro de estréia – “Alguma Poesia” (1930), fazendo jus à palavra gauche, de origem francesa, que corresponde a esquerdo, em português. Nessa perspectiva, nota-se, desde seu primeiro livro, o comprometimento do poeta em assumir-se estética e existencialmente. Mais do que um mero versejar sobre dor-de-cotovelo ou falta de dinheiro, o poeta verdadeiramente é “a antena de uma raça”, como diz o grande crítico Erza Pound em seu “ABC da Literatura” e, por isso mesmo, o seu fazer requer um árduo trabalho de leitura e técnica, de contemplação e mesmo de atitude diante da existência. É esse percurso que se fez na obra do poeta itabirano.
De sua primeira fase (gauche), caracterizada pelo pessimismo, isolamento e reflexão existencial, bem como o desencanto em relação ao mundo, surgem as obras “Alguma Poesia” (1930) e “Brejo das Almas” (1934), onde se sobressai o tom irônico e coloquial.
Da segunda fase (social), vem o anseio do poeta de participar e tentar transformar o mundo, deixando de lado o pessimismo e o isolamento da fase anterior – o poeta é solidário com o mundo e assim publica “Sentimento do mundo” (1940)
“José” (1942) e “Rosa do Povo” (1945).
A terceira fase pode ser dividida em dois momentos: a poesia filosófica e a poesia nominal. A primeira é imersa em textos que refletem temas de grande preocupação universal como a vida e a morte, destacando-se “Fazendeiro do ar” (1955) e “Vida passada a limpo” (1959). A poesia nominal é caracterizada por neologismos e aliterações, como “Lição de coisas” (1962).
Por fim, a fase das memórias (década de 70 e 80 do século passado), marcada pelas grandes recordações de Drumond e pelos temas sobre a infância e a família, que são retomados e aprofundados nas obras “Boitempo”, “Boitempo III”, “As impurezas do branco” e “Amor Amores”.
Drummond também escreveu contos e crônicas: Conto: “Contos de Aprendiz”; Crônica: “Passeios na Ilha”, “Cadeira de balanço”, “Os dias lindos”, além do conjunto de poemas eróticos que ele mantinha em segredo, intitulado “O amor natural” (1992).
Enfim, como já prenunciava a epígrafe de Augusto de Campos, a pedra de Drummond ganhou o mundo. Agora é “drummundana”, afinal, no meio do caminho tem um poeta – Carlos Drummond de Andrade. Todavia, cabe aos poetas de hoje não se deixarem petrificar pelo passado nem vangloriar-se no futuro, simplesmente, às de algumas pedras que transportam no meio de seus caminhos...

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