terça-feira, 29 de novembro de 2011

Lançamento do livro: Colunas de São Pedro: a política papal na Idade Média Central, do Profº. Dr. Leandro Rust


Informamos o lançamento do livro “ 'Colunas de São Pedro': a política papal na Idade Média Central " (Annablume, 2011, 572p.), concluído no âmbito do Vivarium - Laboratório de Estudos da Antiguidade e do Medievo (UFMT), do Professor Dr. Leandro Rust.
Sinopse: 

"O tema primordial do livro consiste numa história institucional do papado entre os séculos XI e XIII. Assim estabelecida na sua aparente simplicidade, a obra em questão poderia parecer pretender remeter os seus leitores ao Oitocentos e à culminância dos discursos oficiais do poder. Ledo e absoluto engano! Seu autor restabelece uma “temática de outrora” em bases conceituais radicalmente outras. Desta perspectiva primordial inovadora decorre uma segunda e a meu juízo ainda maior contribuição, nesse caso à História Medieval, na medida em que restabelece de forma muito mais equilibrada e plena a abordagem de um dos temas mais caros aos especialistas do período em questão: Leandro Rust promove uma profunda revisão crítica do suposto “programa ou projeto reformador” levado a cabo pelo Papado durante a Idade Média Central, mais conhecido do público leitor pelo pomposo e vigoroso título de Reforma Gregoriana." (da Apresentação, por Mário Jorge da Motta Bastos)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Drummond, o poeta gauche


"Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem na sombra, disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida". Assim, Carlos Drummond de Andrade se anuncia no “Poema de sete faces”, de seu livro de estréia – “Alguma Poesia” (1930), fazendo jus à palavra gauche, de origem francesa, que corresponde a esquerdo, em português. Nessa perspectiva, nota-se, desde seu primeiro livro, o comprometimento do poeta em assumir-se estética e existencialmente. Mais do que um mero versejar sobre dor-de-cotovelo ou falta de dinheiro, o poeta verdadeiramente é “a antena de uma raça”, como diz o grande crítico Erza Pound em seu “ABC da Literatura” e, por isso mesmo, o seu fazer requer um árduo trabalho de leitura e técnica, de contemplação e mesmo de atitude diante da existência. É esse percurso que se fez na obra do poeta itabirano.
De sua primeira fase (gauche), caracterizada pelo pessimismo, isolamento e reflexão existencial, bem como o desencanto em relação ao mundo, surgem as obras “Alguma Poesia” (1930) e “Brejo das Almas” (1934), onde se sobressai o tom irônico e coloquial.
Da segunda fase (social), vem o anseio do poeta de participar e tentar transformar o mundo, deixando de lado o pessimismo e o isolamento da fase anterior – o poeta é solidário com o mundo e assim publica “Sentimento do mundo” (1940)
“José” (1942) e “Rosa do Povo” (1945).
A terceira fase pode ser dividida em dois momentos: a poesia filosófica e a poesia nominal. A primeira é imersa em textos que refletem temas de grande preocupação universal como a vida e a morte, destacando-se “Fazendeiro do ar” (1955) e “Vida passada a limpo” (1959). A poesia nominal é caracterizada por neologismos e aliterações, como “Lição de coisas” (1962).
Por fim, a fase das memórias (década de 70 e 80 do século passado), marcada pelas grandes recordações de Drumond e pelos temas sobre a infância e a família, que são retomados e aprofundados nas obras “Boitempo”, “Boitempo III”, “As impurezas do branco” e “Amor Amores”.
Drummond também escreveu contos e crônicas: Conto: “Contos de Aprendiz”; Crônica: “Passeios na Ilha”, “Cadeira de balanço”, “Os dias lindos”, além do conjunto de poemas eróticos que ele mantinha em segredo, intitulado “O amor natural” (1992).
Enfim, como já prenunciava a epígrafe de Augusto de Campos, a pedra de Drummond ganhou o mundo. Agora é “drummundana”, afinal, no meio do caminho tem um poeta – Carlos Drummond de Andrade. Todavia, cabe aos poetas de hoje não se deixarem petrificar pelo passado nem vangloriar-se no futuro, simplesmente, às de algumas pedras que transportam no meio de seus caminhos...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Drummond e Portinari: poesia e pintura

Escrevo este texto premido pelas obrigações da minha função de editor e, ao mesmo tempo, aproveitando o ensejo das comemorações recentes pelo aniversário do poeta Carlos Drummond de Andrade, que já comentamos aqui na Revista e que, inclusive, ensejou igualmente a dica de leitura postada pelo amigo Raphael Reis.

Pensei que para começar uma "coluna" - neste caso seria melhor falar de marcadores - sobre as aproximações da Literatura com outras artes, seria interessante mostrar alguns dos poemas que Drummond escreveu como "legenda" ou "glosa" para desenhos de Portinari criados a partir do Dom Quixote, de Cervantes - ao fim e ao cabo, outra referência literária.

Estes poemas foram editados em um volume fora de comércio junto com os desenhos de Portinari, sendo reunidos depois por Drummond no volume As impurezas do branco, de 1973. Para explicitar o valor dessa aproximação da literatura com a pintura recorro às considerações de Alice Áurea Penteado Martha, que, em um artigo [1] dedicado aos desenhos de Portinari e aos poemas de Drummond diz o seguinte:

"A construção dos poemas revela, certamente entre outras, duas leituras do poeta: do texto de Cervantes (1605) e dos cartões da série Quixote, de Portinari. Sob essa ótica, a elaboração dos poemas pressupõe modos diferenciados de percepção do objeto de poesia pelo eu poético, um verbal e outro não-verbal, dinâmica que produz, no entrelaçamento de visões, um Quixote renovado, para deleite dos leitores de Cervantes, de Portinari e do próprio Drummond."


Dom Quixote de Cócoras com Idéias Delirantes


I / Soneto da loucura
A minha casa pobre é rica de quimera
e se vou sem destino a trovejar espantos,
meu nome há de romper as mais nevoentas eras
tal qual Pentapolim, o rei dos Garamantas.

Rola em minha cabeça o tropel de batalhas
jamais vistas no chão ou no mar ou no inferno.
Se da escura cozinha escapa o cheiro de alho,
o que nele recolho é o olor da glória eterna.

Donzelas a salvar, há milhares na Terra
e eu parto e meu rocim, corisco, espada, grito,
torto endireitando, herói de seda e ferro,

E não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens,
na férvida obsessão de que enfim a bendita
Idade de Ouro e Sol baixe lá nas alturas.



VIII/A lã e a pedra                                                            
                                                                                                   Dom Quixote Atacando um Rebanho de Ovelhas
- Olha Alifanfarrão e seus guerreiros!
Olha Brandabarrão e Miaulina!
Micocolembro, vê! mais Timonel!
- Senhor, eu vejo apenas uns carneiros.


A lança em riste avança e fere a lã,
traspassa ovelhas como se varasse
o coração de feros inimigos.
- Chega, senhor, esta peleja é vã.


(Não chega, não, até que a boca sangre
                   e dentes saltem,
                   costelas partam-se
                   e role o corpo,
                   colchão de dores,
                   do herói vencido
                   não por Ali
                   mas a pedradas
                   de enfurecidos                    
                        pastores)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Dica de Leitura: O Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira do Mato Dentro, nono filho do fazendeiro Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade. Foi jornalista, professor secundário, funcionário público, tradutor, usou óculos de aro de tartaruga, terno, gravata e uma pastinha preta que carregava na mão quando seguia, já morando no Rio de Janeiro, para seu trabalho no Ministério da Educação e Saúde Pública. Mas foi principalmente poeta e refinado prosador, publicando livros de poemas e crônicas diárias nos principais jornais do Brasil
Quando Carlos Drummond de Andrade escreveu seu primeiro livro, Alguma Poesia (1930), o tema marcante era o do sujeito que constrói sua própria história e que, desde então, estaria presente ao longo de toda a sua obra.
Segundo o Professor Paulo Tostes, “Jean Paul-Sartre ainda não tinha publicado sua definição sobre o que implica o Existencialismo e Drummond já assumia em sua poesia a visão de que primeiro o homem existe, para depois se definir”.
No que se refere à obra O Sentimento do Mundo, obra essa indicada nesta seção como Dica de Leitura, revela sua reflexão sobre o século XX. Foi publicada em 1940, em plena a Segunda Guerra Mundial; época marcada pela ascensão de vários governos totalitários, inclusive, no Brasil tínhamos a Ditadura do Estado Novo com Vargas (1937-1945).
 Os dois versos que iniciam o poema que dá o título a este livro, “Tenho apenas duas mãos/e o sentimento do mundo”, segundo o colunista da Folha de São Paulo, Manuel da Costa Pinto, introduz ao universo do poeta mineiro, “um território literário sulcado pela ironia e pela perplexidade metafísica, dividido entre o tom prosaico (que aproxima a poesia dos problemas do homem comum, da ‘vida presente’) e a impossibilidade da expressão (demarcando o abismo interior de cada um)”.
Enfim, por que ler Drummond? O jornalista Heitor Mello, responde como ponto de partida uma das poesias do livro o Sentimento do Mundo, “Elegia1938”. Para ele, essa poesia
poderia entrar na categoria de poema profético, se fosse o caso. Mas o que conta aqui é que Drummond, poeta dos mais inteligentes e ligados ao seu tempo, sabia o peso que a ilha de Manhattan ocupava e ocupa no concerto das nações do capitalismo moderno. O poema, que trata de certa forma da falta de sentido de nossa vida no mundo de hoje (mesmo se tratando de um poema dos anos 30, o assunto ainda é pertinente), no qual trabalhamos “sem alegria para um mundo caduco”, termina com os seguintes versos:

‘Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota/ e adiar para outro século a felicidade coletiva./ Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição/ Porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan’.

O Sentimento do Mundo é composto pelas seguintes poesias:

Sentimento do Mundo
Confidência do itabirano
Poema da Necessidade
Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte
Tristeza do império
O Operário no mar
Menino chorando na noite
Morro da Babilônia
Congresso Internacional do medo
Os mortos de sobrecasaca
Brinde no Juízo Final
Privilégio do mar
Inocentes do Leblon
Canção de berço
Indecisão do Méier
Bolero de Ravel
La possession Du monde
Ode no cinqüentenário do poeta brasileiro
Os ombros suportam o mundo
Mãos dadas
Dentaduras duplas
Revelação do subúrbio
A noite dissolve os homens
Madrigal lúgubre
Lembrança do mundo antigo
Elegia 1938
Mundo grande
Noturno à janela do apartamento

Obs.: Fica a dica do documentário da Globo News sobre o poeta. Inclusive há poesias declamadas pelo próprio Drummond.
  Para visualizar o documentário assista ao vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=1PoU8aVRRAI


Nota de Falecimento

  Comunicamos que a mãe do Paulo Roberto Tostes, Editor da Revista Encontro Literário, faleceu ontem.
  Nós da Revista, desejamos ao amigo Paulo e toda a família muita força, equilíbrio e paz.
  O corpo será enterrado hoje, às 14h, no Cemitério Municipal da cidade de Juiz de Fora, MG.
  Fica nosso abraço carinhoso ao amigo.