quinta-feira, 22 de março de 2012

Franz Kafka e a metamorfose por vir

Marcado por conflitos com o pai, a pátria, com a língua e a literatura, enfim, Franz Kafka só encontraria a redenção após a sua morte, com a consagração de sua obra. Nesse contexto, vale destacar em que mundo nasceu, cresceu e escreveu o grande escritor tcheco. De início, a cidade de Praga, nas duas últimas décadas do séc. XIX, era uma cidade em “metamorfose”, numa alusão à sua obra mais conhecida e uma das mais lidas, dentre os clássicos da literatura universal. Na verdade, a antiga Tchecoslováquia só passou a existir em 1918, quando uma Constituição temporária criou o Estado Democrático, e Praga ainda era parte do Império Austro-Húngaro, sob a monarquia dos Habsburgos. A camada mais pobre da população era composta, principalmente, por industriais, banqueiros e altos funcionários da burocracia – universo que marcaria bastante as relações emblemáticas dos personagens de Kafka. Aliás, o seu pai era um pequeno industrial. A língua era o alemão, considerado a língua dominante, enquanto a grande massa de operários, pequenos assalariados e camponeses falava tcheco. O clima de tensão parte daí, pois foi um dos momentos mais críticos da história mundial em que a língua, mais do que dividir dois povos distintos, criava diferenças e discriminações dentro de um mesmo país. Não por menos, Kafka leva às últimas consequências esse clima hostil, marcando, inclusive a obra A Metamorfose, na qual Gregor Samsa desperta de um sonho perturbador para retratar toda a ambiência psíquica e moral de seus familiares, que bem podem representar aqui todo aquele clima de tensão por que passava o esfacelado país de Franz Kafka. A Metamorfose, portanto, pode ser vista como a autoimolação de um jovem filho e de seu sacrifício em prol da família, ou melhor dizendo, de uma causa que vai além disso – é o caminho angustiante de um personagem num mundo por demasiado excludente e alienante para alcançar a dimensão do grande escritor Franz Kafka...

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