sábado, 30 de junho de 2012

Conto selecionado no Edital 03 - 2012, categoria Juvenil: "O rei das ruas"

O rei das ruas
por Igor Gonçalves de Oliveira* 


    Acordo com os sons dos pássaros, a luz do sol reflete em meus olhos, me espreguiço e então dou um pulo da cama. Pela manhã, como um taco de pão com um gole de leite e vou brincar de ser capitão.
    A casa na árvore, o meu barco, um cabo de vassoura, a minha espada e estou a navegar em um mar de sonhos. Ventania forte se transforma em tempestade e uma carroça entulhada no fundo do quintal é o barco adversário. O gramado é o oceano que se limita a um cercadinho de madeira e a vida se torna um sonho de criança.
    Estou a imaginar na casa da árvore até ver pela minha luneta de capitão um cachorro vira-lata entrando por debaixo do cercado. Então, o barco volta ser apenas uma casa na árvore, o gramado é apenas um gramado e a carroça é apenas um entulho. Não avistei somente um vira-lata ignorado por muitos, avistei ali, naquele cão de rua de olhos profundos e de face tristonha, um novo amigo.
     O cão sem valor, como muitos diziam, entrava espremido por debaixo do cercado por um caminho que ele havia feito após tanto cavoucar a terra preta. Após sair do buraco feito, levantou rapidamente meio sem jeito, sacudiu-se para tirar a terra e deu alguns passos desconfiado, mas logo levantou a cabeça, instigou o olfato e começou a cheirar a grama verde. Andava com orelhas em pé até achar um saco de lixo perto da carroça. Começou a futricar, despedaçou uma caixa de leite e a lambeu, agarrou um pedaço de tomate e logo se deliciava com um taco de pão.
     Não aguentei a ansiedade e logo desci escada abaixo para ver o cachorro. Dei alguns passos desconfiado e, um pouco ofegante, cheguei perto do cão, que, ao perceber que eu estava ali, logo escondeu o rabo entre as pernas e correu para debaixo da carroça. Agachei e o vi escondido atrás da roda da carroça, dava para ver o olhar de medo do cão. Vasculhei o lixo e peguei uma sobra de arroz queimado - parecia horrível, mas era o que tinha perto. Ofereci em minhas mãos a sobra de arroz, o cachorro desconfiou, saiu de trás da roda com um olhar atento, chegou um pouco perto, deu uma fungada, uma lambida na sobra e logo começou a se lambuzar com  o arroz queimado.
    Eu não sabia de onde ele havia vindo, nem seu passado. Conhecia muito menos seu futuro, mas desejava que ficasse comigo. Mas, ao terminar de lamber minha mão, ele simplesmente aproximou-se de mim, humildemente lambeu-me o rosto e se foi sem me dar uma pequena chance que fosse de lhe cuidar...
   Nunca mais o vi, mas eu o compreendia: aprendeu a ser livre, a sobreviver nas ruas, se escondendo do perigo e encarando-o quando fosse necessário. A vida lhe fez forte e corajoso...
     A vida fez dele o rei das ruas.

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* Igor Gonçalves de Oliveira é estudante do 1° ano do ensino médio. Tem 15 anos e há dois anos começou a escrever como hobby e paixão. Em seus textos tento descrever de forma simples e compreensível fatos do cotidiano e procura observar poesia nas coisas simples da vida. Em 2011 obteve o segundo lugar no concurso de Redação da 3° Caminhada pela Paz, de Valparaíso de Goiás.

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