domingo, 3 de junho de 2012

Dica de Leitura: Vaga Música, de Cecília Meireles


Uma das boas sugestões literárias da poesia brasileira é o livro Vaga música (1942), de Cecília Meireles, que marcou definitivamente o auge de sua carreira. É uma poesia contínua que vai ao encontro das imagens do mar. Nesse livro, uma das formas poéticas mais utilizadas pela poeta é a da canção, o que vem indicado, à maneira antiga, já nos títulos: "Pequena canção da onda", "Canção da menina antiga", "Canção excêntrica", "Canção quase inquieta", "Canção do caminho", "Canções do mundo acabado", "Canção quase melancólica", "Canção de alta noite", entre outras... Tendo herdado a linguagem musical e cadenciada do simbolismo, e procurando depurá-lo, o lirismo de Cecília Meireles é perpassado pela melancolia e pelo sentimento da saudade do tempo que passou, o que sugere uma reflexão sobre a fugacidade da vida, a descrição do real e a preocupação com a falta de sentido da existência, bem como a ênfase na condição solidária do homem. 

De Vaga Música, vem este singelo poema em forma de canção:

Pequena canção

Pássaro da lua,
que queres cantar,
nessa terra tua,
sem flor e sem mar?

Nem osso de ouvido
Pela terra tua.
Teu canto é perdido,
pássaro da lua...

Pássaro da lua,
por que estás aqui?
Nem a canção tua
precisa de ti!
 
Confirmam-se, assim, algumas das características de uma bela canção: o som e o ritmo, a impregnação da realidade exterior pela emoção, o apagamento dos fatos e a indeterminação quanto ao tempo e ao espaço. 
Fica, então, o convite a música ceciliana, para além de uma vaga música....

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