domingo, 12 de agosto de 2012

Clarice Lispector: a Fênix das palavras

Quando se trata de Clarice Lispector e de sua obra, não resta dúvida que se está diante de uma autora genial, pois as questões trazidas por essa escritora ucraniana, de origem judia, e que chegou ao Brasil com apenas dois meses de idade, toma conta do ser, pensando-se no sentido heideggeriano: uma luta da escrita contra o tempo e a morte, que transforma em “absoluto” o instante mais fugaz da existência...
É por autores como ela que a literatura no século XX passou a ser uma iniciação e uma aprendizagem. O próprio ato de escrever, para Clarice Lispector, revela uma consciência profunda da experiência humana, ao mesmo tempo em que é perpassado por uma perspectiva mística e singular.
Nesse sentido, é significativa a própria escolha de seus títulos, envoltos pela dimensão do corpo, do amor, da escuridão, da perplexidade e do esplendor... Bastar lembrar algumas de suas obras imperdíveis a todo bom leitor, como: Perto do Coração Selvagem, A Paixão segundo G.H., A Maçã no Escuro, Água Viva, Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, Visão do Esplendor, entre outros.
Clarice não traz em sua escrita uma solução para os dramas existenciais de seus personagens e muito menos os apresenta em um conflito convencional, ela intensifica esses dramas, conforme a particularidade psicológica e social de cada personagem, como ocorre, por exemplo, com a protagonista de A Hora da Estrela em suas variadas faces de opressão.
Ler Clarice significa um turning point inimitável, pois ela faz do instante uma revelação ou no sentido empregado por Joyce: uma epifania da fluidez inapreensível do real, recuperada pela arte.
É nessa perspectiva que a obra de Clarice Lispector vai além da própria leitura, é um mergulho tão abrupto que é impossível ficar indiferente diante de seu texto. A força da sua linguagem e a intensidade das emoções de seus personagens é um convite a desvendar a todo o momento o ser humano que se manifesta em nós, certo, contudo, de que a cada descoberta se oculta outro ser, como diria Heidegger...

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