LA
EDUCACIÓN prohibida. Realização integral: German Doin. [s.l.],
145 min., legendado.
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=-1Y9OqSJKCc.
Acesso em: 21 mar. 2013.
Divulgado
na internet a partir de agosto de 2012, o filme-documentário La
educación prohibida
apresenta algumas experiências que ousaram transgredir o modelo
educativo tradicional, constituindo-se em um tentador convite à
reflexão sobre a instituição escolar e as práticas educativas.
Trata-se de um material particularmente indicado para professores que
já atuam em sala de aula ou que ainda estão se formando e, também,
para todos aqueles que desejam um futuro livre para seus filhos,
sobrinhos, primos e conhecidos.
Aliás,
um futuro sem embaraços parece ser a preocupação dos idealizadores
da película, que a dedicam “às crianças e aos jovens que desejam
crescer em liberdade”. A trama é composta por uma história
fictícia de fundo, perpassada por recortes de entrevistas feitas com
especialistas de países ibero-americanos. Nesta história de fundo,
é apresentado um confronto entre docentes e alunos motivado pelo
desejo destes últimos de ler um texto dito “ofensivo” numa
comemoração que está por realizar-se na escola. Tal caracterização
do texto se baseia nas suas fortes críticas à ausência de vínculos
entre escola e vida. Para os alunos que o escreveram, a educação
que prepara para a vida está proibida.
Partindo
dessa situação, enfoca-se o status da instituição escolar. Embora
a educação seja um tema importante, que mobiliza debates e
investimentos os mais variados, existe uma uniformidade de práticas
(apesar da multiplicidade de escolas existentes) que se orienta,
quase que exclusivamente, para a formação de trabalhadores,
relegando a formação do ser humano a segundo plano. Isso explicaria
por que, nas palavras de Carlos Alberto Jiménez Vélez,
neuro-pedagogo colombiano, as escolas e colégios latino-americanos
não são mais que “espaços de tédio e aborrecimento”.
No
entanto, a escola que conhecemos não existe “desde sempre” e o
filme faz uma breve digressão histórica para explicar o surgimento
do conceito de educação pública, gratuita e obrigatória no final
do século XVIII na Prússia. Além disso, é explicitada a
conveniência do modelo educativo atual para as sociedades
industriais, que fizeram da escola um espaço de reprodução
simbólica serializada; uma grande linha de produção. Diante deste
quadro, o chileno Rafael González Heck destaca o mote do filme:
“Toda educação que busque algo diferente tem que ser proibida”.
Feita
esta introdução, o documentário dirige sua atenção para a
diferença que se estabelece entre a escola (estes “espaços de
tédio”) e a educação ou, melhor dito, o processo de aprendizado.
Expõe-se o fato de que as crianças são predispostas a aprender,
sendo desnecessária e até nociva a intervenção dos adultos
através do processo educativo que nós conhecemos. Um dos
entrevistados, o espanhol Juan Pere, explica que focalizar os
objetivos educacionais (aprender a escrever o próprio nome, por
exemplo) desvia nossa atenção e “deixamos de enxergar a criança
para tentar adaptá-la aos objetivos impostos”.
O
filme trata ainda de outros temas, como a tendência da escola a
homogeneizar os alunos, desrespeitando o ritmo da criança. Para
resumir, citamos a assertiva do pediatra espanhol Carlos González:
“tudo o que a criança faz está inadequado, se espera que ela seja
uma criança protótipo”.
Outro
dos temas tratados que nos importa destacar é a questão da mudança
de paradigma do professor. Para fomentar o pensamento sobre o papel
do docente, colocam-se algumas perguntas cujas respostas são,
obrigatoriamente, muito pessoais. Por exemplo: o que sinto quando
estou educando?
Após
um cortejo de situações que impõem a necessidade de refletir sobre
o modelo educativo em voga, o filme termina com a leitura do texto
sobre a educação proibida, aquela que não se escreve em nenhum
caderno. Este texto, que veio sendo debatido na história de fundo,
faz mais que defender a educação que ficou de fora das escolas, ele
nos acusa: “Acreditamos que a educação está proibida não por
culpa dos familiares, não por culpa das crianças, nem por culpa dos
docentes. Todos proibimos a educação”.
A
título de conclusão, podemos dizer que, se ainda não podemos
prescindir da escola, o filme nos leva a desejar que possamos ao menos prescindir dos males da
escolarização excessiva. É esse o compromisso que nos vemos em
posição de assumir após assistir La
educación prohibida.
Pós-escrito: Se faltam a este texto as "marcas autorais" que permitiriam irmaná-lo às demais colunas que escrevo para a Revista Encontro Literário é porque, originalmente, ele foi escrito como avaliação para uma das disciplinas que cursei na UFJF no último período. Aproveito o ensejo desta explicação para colocar o trailer oficial do filme acima resenhado:
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